Jeferson Sena

Minha intenção é que este espaço sirva para postagem e discussão de idéias sobre os mais variados temas. Todos podem se manifestar sobre o que for publicado, só peço que sejam mantidas a ética e a boa educação.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Vai cobrar quanto?

Por Jeferson Sena *


Estabelecer preço de venda para produtos e serviços é sempre um momento delicado para as áreas de marketing e vendas das empresas. Este atributo do produto pode significar um grande empecilho para a venda.

Para o caso de precificação de serviços essa tarefa é ainda mais complicada, dada a natureza intangível do que é vendido. Por isso mesmo que comparar preços de serviços exige alguma experiência porque alguns pequenos detalhes podem significar diferenças razoáveis. O processo para estabelecimento do preço de serviços deve ser sempre cercado de muito cuidado.

Nesse contexto é razoável observar que:

  • determinar o preço de venda de serviços não é uma tarefa simples;
  • existe uma tendência de encarar a precificação como o resultado de um cálculo, o que não é verdade;
  • o preço de venda de serviços deve ser determinando em função de condições estratégicas do mercado e do próprio serviço;
  • quanto mais mecânico for o serviço mais simples será determinar os valores de cada componente do preço de venda;
  • os serviços com maior complexidade intelectual ou tecnológica tendem a exigir preços mais específicos, formatos por projeto;
  • em função das especificidades de mercado cada empresa deve adotar uma metodologia própria para precificação dos serviços;
  • a metodologia deve contemplar todos os fatores de custo, lembrando sempre que, quanto mais complexo for o serviço a ser executado, mais detalhadas devem ser as planilhas de custos utilizadas na precificação.

Um dos primeiros mitos que temos de desfazer é o do cálculo: muitos empresários acreditam que os preços de venda dos serviços são calculados quando, na verdade, esses preços são estabelecidos. Esse equivoco sobre a questão do cálculo deriva da forma como estabelecemos as regras para chegarmos aos valores de referência dos preços.

Geralmente, quando tratamos de formação de preço, o empresário se depara com uma regra algébrica:

PV = CS + CT + LB sendo que CS = RU + CF + KH

Onde:
PV = preço de venda
CS = custo dos serviços
CT = custo tributário
LB = lucro bruto
RU = recurso utilizado
CF = custo financeiro
KH = conhecimento empregado (know-how)


Para a aplicação correta dessa fórmula é necessário que o responsável pela precificação compreenda como a composição dos custos é relevante para o preço. Entender como e quais custos definem a forma de construir o preço é muito importante para que adotemos uma metodologia adequada. Vamos exemplificar:

  • se o negócio é uma lavanderia, onde o uso de equipamentos e consumíveis são os componentes de maior relevância dos custos, a determinação do preço de venda do serviços vai se dar muito em função da quantidade de quilos de roupa lavada. Principalmente se considerarmos que esses custos são, quase que totalmente, fixos;
  • se o negócio é a construção de uma obra (edifício, navio, avião, etc...), ainda há intenso uso de equipamentos e materiais, mas há dois novos recursos que devem ser considerados com atenção: pessoas e dinheiro. Outro fator, nesse caso, é que os custos têm caráter variável e precisam ser administrado em função do volume de serviços e do tempo. Nesse caso a determinação do preço de venda será diferente para cada projeto e, em geral, resulta da soma dos custos dos recursos empregados mais as parcelas remuneratória e tributária;
  • e se o negócio for de serviços de tecnologia da informação? Também é plausível considerar o emprego de recursos com custos variáveis em função de volume e tempo, portanto, analogamente, cada projeto terá um preço diferente. Só que para esse caso, existe um componente do preço que não é um recurso, mas um insumo de extrema importância e de difícil cálculo: o conhecimento empregado no projeto. Isso faz toda diferença para o cálculo do preço desse tipo de projeto.

Pelos exemplos podemos verificar que a elaboração da base de preços, independente do tipo de serviço, requer conhecimento histórico dos custos envolvidos e tal só é possível com um controle de custos planejado.

Um bom sistema de contabilidade de custos torna-se essencial e obriga as organizações a trabalharem com conceitos contábeis mais elaborados, que extrapolem a simplicidade dos registros fiscais e, também, um sistema de controle orçamentário, que possibilite o acompanhamento dos gastos despendidos ao longo da execução dos serviços.

Todo esse trabalho em torno dos custos visa estabelecer um valor referencial para o estabelecimento do preço de venda. Isso gera a falsa idéia de que o preço é o resultado do cálculo aritmético proposto na formula, quando na verdade o preço de venda deve ser determinado em função de aspectos estratégicos que não estão evidentes nessa fórmula. A variável estratégica reflete-se basicamente em 3 componentes da formula:

a) lucro bruto – o percentual de lucro pode variar em função da vontade do empresário. Se estiver em um mercado de concorrência baixa, pode estabelecer lucros maiores, caso contrário pode reduzir o seu lucro conforme o nível da competição;

b) custo financeiro – repassar o custo financeiro ao produto significa um aumento da margem de lucro, pois o cliente estará pagando pela necessidade de financiamento da empresa;

c) conhecimento empregado – esse componente é muito difícil de quantificar por ser altamente volátil, pois resume todo os esforços envolvidos no desenvolvimento e produção do serviço. Em alguns casos as empresas optam por dissolver esse custo em parcelas mínimas de recuperação do capital investido na geração de conhecimento (pesquisa, formação, tecnologia, etc...), em outros casos usam a política contrária. Essa decisão é altamente estratégica e pode/deve levar em conta o ciclo de vida do produto e seu ciclo de desenvolvimento.

Como são definições estratégicas, uma boa análise de mercado determina o maior ou menor nível de acerto quanto à decisão sobre os preços de venda dos serviços. Portanto uma análise dos fatores mercadológicos é essencial para o profissional responsável pelo estabelecimento dos preços. Esses fatores são:

a) Nível da competição interna do setor industrial;
b) Possibilidade de ampliação/redução do número de competidores;
c) Pressão por parte de produtos substitutos;
d) Desequilíbrio na cadeia produtiva decorrente da pressão de compradores e fornecedores.

Para estudo desses fatores podemos utilizar a ANÁLISE DA ESTRUTURA DA INDÚSTRIA SEGUNDO PORTER [1]. Essa ferramenta proporcionará uma ampla reflexão sobre as condições mercadológicas e o entendimento das condições competitivas do setor industrial no qual a empresa atua.

É óbvio que tal análise não será feita a cada projeto para os quais se pretenda estabelecer novos preços, mas deverá ser executada periodicamente, como forma de estabelecer as condições estratégicas necessárias à obtenção de preços de serviços realmente competitivos.


Bons resultados!


Dúvidas? Perguntas? Sugestões? Críticas? Por favor, escreva para Jeferson Sena em jefersonsena5@gmail.com



* Jeferson Sena é administrador, professor universitário e estudioso das áreas de planejamento estratégico, organização empresarial, terceirização de serviços, formação de preços e controle de custos de serviços. Atua desde 1988 na indústria de tecnologia da informação, nas áreas de gestão empresarial e marketing.


[1] NOGUEIRA, Alexandre Studart. PADRÃO DE CONCORRÊNCIA E ESTRUTURA COMPETITIVA DA INDÚSTRIA SUINÍCOLA CATARINENSE. Dissertação para a obtenção do título de mestre em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis:1998.

3 Comments:

  • At 27 outubro, 2006 14:19, Anonymous Anônimo said…

    Jeferson...Boa tarde!!!

    Não será por falta de comentários que vc terá que parar de escrever! Tenho certeza que não...ainda mais em se tratando de um tema tão pouco debatido e muitas vezes até ignorado...

    Os Serviços, talvez aqui em Goiás muito mais que em outros centros, é tratado com um certo senso de "desvalorização", principalmente quando se trata de incluir no calculo do preço esse ítem que vc chamou de "Conhecimento Empregado". Parece-me que preços de serviços muitas vezes são definidos "ao Deus dará", o que prejudica sobremaneira o profissional sério e detentor de conhecimentos específicos, principalmente quando o assunto é engessado pela Lei 8.666, que nem sempre garante a qualidade do serviço tomado, mas obriga a contratação de um serviço de preço inferior em detrimento de serviços mais qualificados e consequentemente mais caros.

    Gostei muito de saber do seu blog (eu ainda não sabia)...quero continuar acessando.

    Abraços

    Elaine Moura

     
  • At 30 outubro, 2006 13:59, Anonymous Anônimo said…

    Prezado blogueiro,

    Se o negócio for de serviços de tecnologia da informação há que se projetar as vendas em potencial do produto em desenvolvimento.
    Se um programa de computador for desenvolvido sob encomenda para um único usuário, o seu preço de venda terá que suportar todo o custo de produção. Então, o preço de venda seria esse custo mais a margem de lucro, logicamente.
    Outro sistema com projeção de venda de milhares de cópias, o custo de produção será a base de cálculo do seu preço que será diluído, levando em conta essa projeção a qual, por uma questão de prudência, não poderá conter excesso de otimismo.
    A dúvida fica na questão: como projetar a venda de um serviço de tecnologia notadamente se o projeto for inovador?

    Joaquim J. Mariano
    Audidata Informática Ltda.
    www.audidata.com.br

     
  • At 30 outubro, 2006 14:00, Anonymous Anônimo said…

    Jeferson, muito interessante seu último artigo, pena que só tomei conhecimento do seu blog agora. Mas, com certeza estará entre os meus favoritos e lerei os demais artigos lá postados. Esse último que você postou foi extremamente esclarecedor para mim em particular.Estarei encaminhando a url a minhalista de contatos, pois acredito acrescentar muito a todos os executivos e profissionais independente da área de atuação.

    Um abraço e parabéns pela iniciativa.

    Ats.,
    Fernando Bueno Chaves
    Diretor de Redes de Telecomunicações
    LinknetTecnologia e Telecomunicações Ltda.
    62 32137500
    61 30374500
    62 92237951
    fernando.chaves@linknetdf.com.br

     

Postar um comentário

<< Home